terça-feira, 2 de outubro de 2012

Velha de pouca idade.

Eu esqueci quem eu sou; andei trilhas e trilhas e me perdi dentro de mim. Botei um tênis surrado, passei um perfume, botei uma roupa preta e uma make radical e sai pela madrugada andando perdida pelas ruas. Bebi um pocado, e já falava meio enrolado. Eu que pouco falo em publico, quase cheguei ao ponto de cantar. Eu que até então sou travada ao me comunicar e me expressar, cheguei a falar todos os meus pensamentos sem medo de gaguejar. Afinal, quem eu sou? A garota que saiu pelas ruas e conseguiu se soltar bebendo, ou aquela quieta do canto da sala de aula que normalmente está lendo um livro ou soltando poucas risadas com sua unica amiga? 
[*] E apesar de estar completamente dominada pela bebida fui careta.
O moço de muitos anos mais velho que eu me questionou de que minha idade eu não tenho problemas, afinal o que eu estava fazendo ali bebendo para esquecer? Eu dei uma bela resposta, lhe disse que eu posso ser assim tão nova mas posso ser mais madura do que ele que naquela idade estava me questionando quando na verdade se fosse bom o suficiente também não estaria ali bebendo. Depois daquela, senti um aperto no coração dele.  
Acho que depois dessa resposta, todos sentiram um aperto no coração. 
Uma garota tão nova falou aquilo com um tom de voz tão forte e tão séria, não é normal isso. Afinal, não é nada normal pois a garota sou eu.
Normalmente sou assim tão curta com as palavras e tão decidida no lugar onde quero chegar, mas no estado que eu estava não é normal eu ainda ter conseguido pensar.
Que diabos eu estava fazendo ali? Eu cheguei até ali para descontrair bebendo, para me esquecer, para me perder e parar de pensar tanto nos problemas, parar de ser tão responsável e tão linha reta e começo a ser careta com todos? 
Que bosta, eu tento e tento fugir de mim mas tudo que encontro é um poço de caretice. Tenho 60 anos? Não é possível que na minha idade eu seja assim tão velha.